Trabalhismo: nem centro-esquerda, nem “marxismo light”

Doutrina forjada por Getúlio é uma forma radical de nacionalismo-revolucionário análoga ao peronismo argentino: nada a ver com centrismos socialdemocratas de qualquer espécie. 

Um erro crasso, muito comum, é achar que duas coisas que possuem o mesmo nome são a mesma coisa. É daí que vem a curiosíssima simpatia de autodeclarados “trabalhistas” (se eles o são é uma outra história) por políticos afiliados ao Labour Party britânico e às suas sucursais em outros países anglófonos.

Por mais que se possa traduzir o nome do “Labour Party” por “Partido Trabalhista”, isso não implica qualquer tipo de proximidade ou conexão mais do que meramente superficial e coincidente.

O Trabalhismo brasileiro, criado por Getúlio, está claramente enraizado na Doutrina Social da Igreja Católica (DSI), sofrendo também o influxo de influências fascistas e socialistas. É, para todos os efeitos, uma ideologia enquadrada na Terceira Teoria Política. Não por acaso, a ideologia estrangeira mais próxima ao Trabalhismo é o Peronismo argentino — mesmo que este esteja, clara e inequivocamente, em sua acepção original, muito mais próximo do arco da Quarta Teoria Política.

Poderíamos, inclusive, dizer que o Peronismo é o trabalhismo argentino, como o Trabalhismo é o peronismo brasileiro. O que complica demais a situação dos que tentam pintar o Trabalhismo como uma “centro-esquerda socialdemocrata” ou, pior, como um “marxismo light”. Afinal, as íntimas conexões de Perón — tanto pessoais quanto teóricas — com a Terceira Teoria Política europeia são ainda mais evidentes.

Veja-se, por exemplo, que um dos principais sustentáculos do poder de Getúlio era a Igreja, que mobilizava as massas em favor do Líder através de organizações como a Ação Católica Brasileira, criada pelo Centro Dom Vital e cujas reflexões teóricas eram veiculadas pela revista A Ordem, uma publicação pautada no pensamento de nomes como De Maistre, De Bonald e Donoso Cortés, e que publicava, entre outros, textos de Charles Maurras e Carl Schmitt.

Os “marxistas light” e os “socialdemocratas de centro-esquerda” que reivindicam o Trabalhismo costumam apelar ao castilhismo, de inspiração comteana, para “refutar” as conexões e raízes fascistas de Vargas, mas Charles Maurras, o pai do fascismo (sobre isso, vale a leitura do livro de Zeev Sternhell sobre as origens do fascismo), era ele próprio comteano.

Uma das raízes do fascismo francês (que influenciou todos os outros) é, precisamente, o mesmo positivismo que deu origem ao castilhismo. O positivista Leon Duguit, cujo conceito de “função social da propriedade” informou sobremaneira o pensamento de Getúlio (e o Trabalhismo como um todo), é o mesmo Leon Duguit cujo pensamento influenciou José Antonio Primo de Rivera (na verdade, Primo de Rivera chegou a assistir às famosas palestras de Duguit sobre a função social da propriedade), fundador da Falange Espanhola, principal organização fascista daquele país.

Talvez seja por isso que os “trabalhistas” contemporâneos prefiram esquecer a existência de Alberto Pasqualini, no qual a influência da DSI é preclara.

Por fim, a única coisa que falta é os “trabalhistas” (pedetistas ou não) levantarem loas a Tony Blair — afinal, ele também é do “Labour Party”. Já estou vendo até gente elogiando a primeira-ministra da Nova Zelândia, a mesma que é pró-OTAN, anti-Assad, anti-China, etc. então não me surpreenderia.

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Raphael Machado

Advogado, ativista, tradutor, membro fundador e presidente da Nova Resistência. Um dos principais divulgadores do pensamento e obra de Alexander Dugin e de temas relacionados a Quarta Teoria Política no Brasil.

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Um comentário

  1. Dear comrades,
    I recommend you read this interview with russian national-bolshevik Aijo Beness.
    Beness is old memer of Limonov’s NBP and The Other Russia party. Aijo was activist of palestinian solidarity movement. Since 2014 Beness took part in pro-Russian unrest in Donbass. He has been arrested multiple times in different countries and tried for his political activities.
    Interview:
    https://web.archive.org/web/20140814095929/http://approve.sx/ukraine-foreigners-fight-socialism-greater-russia/
    if you want, translate the interview into your language

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